Hoje, vagando no meio do nada
Como um animal que oscila
Com um eclipse
A escurecer-lhe a alma,
Na repugnância ainda canta e delira.
Com as pupilas dilatadas
Mórbido e patético, mas ainda respira
Desvenda o tudo e o nada
E morre um pouco a cada dia.
No soneto de uma canção imaginária
Que outrora fora o palco de sua vida
Vai sentindo apagar-lhe da memória
O vulto de quem lhe era a mais querida.
Balbuciava glamouroso em agonia
Idolatrando a quem amara loucamente
No soneto da canção imaginária
Foi fechando os seus olhos para sempre
Sem sentir a lágrima que rolara,
Em diagonal, na face do indigente.
Santo André, 14/09/95