MINHA VIDA EM VERSOS

PREFÁCIO

Não sei como e nem porque no dia 14 de fevereiro de 1965 eu ainda uma menina moça, com meus 15 anos de idade, senti dentro de mim uma grande necessidade de escrever este diário.

Naquela tarde de muito sol eu passeando pelas ruas calmas da minha cidadezinha, de repente sem perceber eu me encontrava frente à frente com o verdadeiro AMOR

Um rapaz alto de pele clara, cabelos negros e olhos profundos de mim se aproximava, foi aí que nasceu toda a minha inspiração para escrever este diário em versos.

Se você ler este livro
Não chore a minha dor
Procure amar menos que eu
E proteja mais o seu Amor.


MINHA VIDA EM VERSOS

Certa tarde de fevereiro
Com uma linda tarde de sol
Eu sai para um passeio
E encontrei um Grande Amor

Entre olhares vibrantes
Foi um dia sem outro igual
Marcamos o 2º encontro
Numa noite de carnaval

Bríncamos com muitas alegrias
Até a madrugada chegar
Voltamos para a casa sorrindo
Para um pouco descansar.

Na quarta-feira de cinzas
Nós dois felizes a sorrir
Fomos muitos abraçados
Um belo filme assistir.

E o tempo foi passando
Com nosso amor aumentando
Certa vez quando mais crescia
Um outro alguém nos destruía.

Começaram os problemas
Com a nossa primeira briga
No nosso primeiro Amor
A primeira despedida.

Um dia ao nos reencontrar
Em nossos olhos só a solidão
Eu lhe abracei a chorar
E o beijo com emoção

Neste dia continuamos
A nos namorar e amar
Sem saber que outro alguém
Queria nos separar

Dois meses se passaram
E felizes nós nos amamos
Quando foi um certo dia
Sem motivos terminamos

Mas nosso amor já crescia
E nós não suportamos
Quando o novo dia raiou
O namor continuamos
Passaram-se mais três meses
De felicidade e amor
Tudo era maravilhoso
Ao sentir o seu calor

Com todo este amor imenso
 Meu coração já lhe pertencia
 E no dia três de julho
Noivamos com alegria

E uma festinha fizemos
Para comemoração
Eu chorava emocionada
Por ser meu seu coração

E dentro da minha mente
 Um novo vercinho nasceu
 Inspirado pelo Amor
 Que só o José me Deu

E um recanto qualquer
Onde você me beijava
Para saudar nosso amor
O seu perfume ficava.
Mas este alguém malvado
Por nos ver felizes não resistia
E até cartas anônimas
Para mim ele escrevia.

Eram letras de mulher
Mas não sei quem as mandava
Eu quietinha vinha sofrendo
Com as tristes e cruéis palavras

Eu fiquei desesperada
Com o coração cheio de dor
Os ciúmes apareceram
Para perturbar nosso amor

Ao ver que eu me calava
Este alguém não desistiu
E com tremendas calúnias
Para ele escreveu.

Mas ele estava apaixonado
E para as cartas não ligou
Porque ele não queria
Destruir o nosso amor
E logo os ciúmes
Para nós aparecia
Por muito pouca coisa
Sem querer nós descutíamos.

Por ciúmes um dia
Nós brigamos de repente
Eu lhe devolvi a aliança
Ele me devolveu a corrente

Passaram-se três dias
Ele triste e angustiado
Eu com terríveis saudades
Do meu menino amado

De repente no portão
Vejo alguém sorrir
Era o meu grande amor
Que procurava por mim

E passamos muitos dias
Sem de novo discutir
Para ele eu sorria
Ele sorrindo para mim

Mas eis que um coleguinha
Para sua festinha nos convidou
Neste dia ele estava zangado
E na festinha não me levou

Eu fiquei contrariada
Porque queria ir à festinha
Me sentindo muito zangada
Veio mais uma briguinha

Então eu falei a ele
Por que você é assim?
Sempre me contrariando
Depois diz que gosta de mim

Ele saiu de minha casa
Me dizendo estar cansado
Foi direto para a festa
E me deixou aqui soluçando

Eu fiquei muito sentida
Mas nada quiz lhe falar
Quando no dia seguinte
O convidei para passear

Com a conciência pesada
Que logo o castigou
O meu carinhoso convite
Sem graça ele recusou

Eu me sentia aborrecida
Sempre contrariada
Cheguei bem junto a ele
E o xinguei muito zangada

Fui no quarto e me arrumei
Mesmo dele sentindo pena
Peguei a minha sobrinha
E fui para o cinema

Com algumas amiguinhas
Para casa eu voltei
E ao abrir a porta
Muito triste o encontrei

E muito aborrecidos
A sós nós dois ficamos
Falando sobre o Amor
Que quase nós terminamos

Uma semana passou
De amor e alegria
Mas logo veio o domingo
E de novo nós discutíamos
Foi este o novo domingo
E ele chegou contrariado
Saímos na casa dele
Mas ele sempre zangado

Quando estávamos chegando
O meu cãozinho foi atrás
Ele me mandou embora
Sem pensar um minuto mais

Com o coração cheio de dor
Quase não suportava mais
Fui chegando no portão
E me encontrei com os meus Pais

Eu contei toda verdade
O que aconteceu
O meu Pai que é tão bom
Com aquilo se aborreceu

Ele muito decidido
Parou para pensar
E resolveu no outro dia
Eu iria viajar.

Foi então que eu viagei
Para a praia da Enseada
Mas quase não suportei
Do meu Amor tão separada

Em Joinville ele ficou
Muito só sem ter a mim
E sentiu que não suportava
Viver sozinho assim

De repente eu voltei
Feliz cheia de vida
Não sabendo que em meu coração
Ia abrir outra ferida

Eu quase uma adolescente
Com apenas 16 anos de idade
Uma menina doente
Sem conhecer a maldade

Por isso eu perdoava
Tudo o que ele me fazia
Pois dentro de seus braços
E que feliz, eu me sentia

Foi o que aconteceu
Três dias depois de eu voltar
As brigas recomeçaram
E eu novamente a chorar

E eu desesperada
Com tantas brigas de repente
Fui ficando muito fraca
E muitos dias doente

Passaram-se mais uns dias
De tristeza e infelicidade
Eu não via o meu Amor
Como é triste a saudade

Mas eis que de repente
Na porta ele apareceu
Com seus olhos tão profundos
Que meu corpo estremeceu

Eu me atirei em seus braços
Tremu-la e abatida
Ele apertava com toda força
Murmurava minha querida

E depois deste dia
Esquecemos toda dor
Começamos novamente
A reviver o nosso amor

Eu estava apaixonada
Meu amor não via fim
Eu pensava que ele sentia
O que eu sentia dentro de mim

Assim com o mesmo amor
Não aconteceu mais nós brigarmos
Certo dia na Enseada
Juntos fomos passear

Lá ficando três dias
Felizes sempre a Sonhar
Ficamos muito queimados
Com o sol dourado e o mar

Nós brincávamos na areia
E corria até o mar
Furando as ondas sorrindo
Com seu olhar no meu olhar

Depois correndo na areia
Ambos com os mesmos desejos
Eu procurava seus lábios
E lhe cobria de beijos

Eu sentia seus lábios salgados
Ardentes e até febris
O seu corpo tão queimado
Como é lindo ser feliz

Enfim as despedidas
Das águas azuis do mar
Das areias que sentiam
Nosso Amor nos tocar

Depois adeus para as pedras
As ondas se violentaram
As conchinhas se abriram
E as saudades da Praia ficaram

Adeus luar, adeus estrelas,
Que sempre nos vijiavam
Quando nas noites lindas
Na praia nós nos beijávamos

Regressamos a Joinville
À nossa terra querida
Para marcar o casamento
E unir as nossas vidas

No dia 1º de março
Lindo sol e muito vento
Com muitas felicidades
Marcamos o casamento

E correndo para casa
Para a notícia espalhar
Contamos aos nossos Pais
Que íamos nos casar

Eu com muitas alegrias
Com meu amor ao meu lado
Começamos as visitas
Aos primeiros convidados

No dia seguinte ele partiu
Saiu para viajar
Em São Francisco e na Enseada
O parente convidar

Meu Deus como estou feliz
Hoje só quero sonhar
Pois vou me casar com o homem
Que sempre eu quiz Amar

E no dia 18 de março
Sorrindo com alegria
Na Igreja do Sagrado Coração
A Lei de Deus nos Unia

Com a Marcha Nupcial
Tudo em mim transbordava
De tanta felicidade
Que meu coração também chorava

Eu toda vestida de branco
Com ele muito contente
Na festa que realizamos
Ganhamos muitos presentes

E todos os convidados
Conversaram alegremente
Não sabiam a ansiedade
Que nós tínhamos de ficar ausente

Finalmente 20 horas
Deixamos o coquetel
Fujimos ansiosos
Para um apartamento no Hotel

Passaram-se alguns dias
De amor muito carinho
E eu com muita alegria
Estou esperando um filhinho

Um filhinho que virá
Deste amor maravilhoso
Para nós ele será
Um tesouro precioso

É com muita ansiedade
Que espero o bebé nascer
Para completar minha felicidade
É alguém mais que eu vou ter

Mas eis que minha tristeza
É mesmo de desesperar
Pois tudo que faço não consigo
Ao meu Amor agradar

No belo dia de Páscoa
Ele estava tão zangado
De mim não se aproximava
E sempre contrariado

Neste momento estou só
Sem poder a ele abraçar
Me sinto desesperada
E nem posso mais chorar

Mas eis que o meu filhinho
Me dá forças e coragem
Esperando para amá-lo muito
É que meu coração ainda reage.

Sabe diário querido
Eu também amo você
Pois quando ele se afasta
É só você que eu quero ver.

E me sinto amargurada
Meu próprio coração me diz
Que lá no outro mundo
Eu vou ser muito feliz

Meu Deus como eu fui egoísta
Só queria Amar, Amar
Sem sentir quantas pessoas
Que sofrem em algum lugar

E hoje eu estou sofrendo
Quantas coisas não notei
Pensando só no meu amor
Ó meu Deus, como eu irei?

Por hoje eu termino
Chorando o meu coração
Pois o homem que eu amava
Feriu minha ilusão

Quando o amor é grande
A vida é mesmo assim
Eu sofrendo para ele
Ele sofrendo por mim

Passaram-se mais alguns meses
E nós felizes sonhando
Com este filho querido
Que eu estou esperando

O inverno foi terminando
Com nosso filho se aproximando
Com um gosto sem igual
Fiz um lindo enxoval

E com muito carinho
O meu bem fez um bercinho
Todo estofado azul e branco
Para deitar nosso filhinho

Passou-se mais um mês
E eu forte e muito bem
Vendo se aproximar o dia
De nascer nosso neném

Alguns dias mais tarde
Fiquei nervosa e doente
E o bebê veio vindo
Para nascer finalmente

No dia 2 de novembro
Às 2 horas da tarde
O meu amor me levou
Para a maternidade.

E como todas as mães
Eu chorava e sorria
Pois estava sabendo
Que era meu filho que nascia.

Às 3 horas da manhã
Meu amor feliz sorria
Ao ver nascer a menina
Linda e forte que ele queria.

No dia 3 de novembro de 1967
Na maternidade Dacy Vargas
Que nascera nossa filha
Tão linda como uma fada.

Algumas horas depois
Ele feliz da vida
Comprou muitos presentes
Para a filha tão querida.

E nossa filha adorada
Esperta e muito viva
Recebeu o lindo nome
De Edilene Soraia da Silva

E todos nossos parentes
Receberam o cartão
Que nascera nossa filha
Querida do coração

Voltamos para casa
Dia 5 do mesmo mês
E começamos nova vida
Feliz entre nós três

Ele chegava junto ao bercinho
Pegava em suas maozinhas
Acariciava seu rostinho
E lhe fazia mil festinhas

De um lado eu apreciava
Com grande felicidade
Meu Amor e minha filhinha
Naquela grande amizade

Dia 17 de dezembro
Fiz uma festa pequenina
Comemorando o batizado
Da nossa doce menina.

À uma hora da tarde
Na mesma igreja que casei
Deus fez da nossa filha
O anjo que sempre amei

E nossos pais muito prosas
Com a neta pequenina
Que era um perfeito anjo
Formosa e linda menina.

Os padrinhos contentes
Jacira e Sebastião
Batizaram nossa filha
Felizes com emoção.

E passamos mais alguns dias
Com ele muito contentes
Quando foi um certo dia
A menina ficou doente.

A casa que era alegre
De repente entristeceu
Por que o maior tesouro
Que concervava adoeceu.

Eu fiquei desesperada
O meu amor também
Corremos para o médico
Que tratou-a muito bem

Depois ela melhorou
Já voltava a alegria
Meu amor se tranquilizou
Eu sorria, só sorria.

Quando ela tinha 5 meses
As coisas foram mudando
Fofocas e diz-que, diz-que
E meu coração se sufocando.

Eu não sabia o que fazer
Saíam tantos comentários
A respeito de mim e dele
De uma tropa de otários

Até mesmo nossa família
Vivia a nos confundir
A nos colocar em conflitos
Sem saber como sair.

Eu pensava uma solução
Pra sair destes conflitos
Nós precisávamos fugir
Para acabar os delitos

Uma única solução
Seria nós nos mudarmos
Para ficar longe de todos
Só nós três a sós ficarmos.

E foi o que aconteceu
Deixamos aquela gente
Que nos fazia sofrer
Com um anjo inocente.

No dia Iº de abril
Nós em São Paulo contente
Eu meu amor minha filha
untinhos finalmente

Por a nossa doce menina
Ser a nossa grande vaidade
Lutamos para dar a ela
Um futuro de felicidades.

Eu e ele tão contentes
Com muitos planos sonhados
Com nossa vida e São Paulo
Que há pouco havia começado.

E nós muitos seguros
Com uma esperança única
De que em breve ele seria
Soldado da Força Pública.

E depois das inscrições
De ter preenchido a ficha
Passou em todos os exames
Mas rodou no de vista.

Foi então que desistiu
Por não poder realizar
O sonho de ser soldado
Resolveu ir trabalhar.

E eu que o amava tanto
Pensei em lhe ajudar
Em uma loja na Zé Paulinho
Comecei a trabalhar.

O sacrifício que eu fazia
Era por puro amor sim
Pois também tinha a nossa filha
Que precisava de mim.

Ela ficava com a vizinha
Até a hora de eu chegar
E eu cansada sorrindo
Corria para lhe abraçar

Mas eu sempre preocupada
Com ela tão pequenina
Não sabia se estava bem
A nossa linda menina.

Pela felicidade dela
Resolvi me sacrifica
Pedi para Mamãe
Que viesse lhe buscar

Mamãe ficou contente
Pois adorava a menina
Veio correndo buscar
Minha jóia pequenina

E foi o que aconteceu
Dia 24 de abril
A Mamãe com minha filha
De São Paulo partiu.

E sofri desesperada
A triste separação
Mas nos braços do meu bem
Eu encontrava a compreensão.

E ficamos só nós dois
Em São Paulo a trabalhar
Lutando por todos os meios
Para o nosso amor conservar.

Mas a ilusão chegara ao fim
Eu só vivia chorando
Por ter lutado tanto
E acabamos fracassando.

Mas nosso amor era tão grande
E cada dia mais forte
Pois vencia todas as barreiras
Menos a barreira da sorte.

Olhem que triste destino
Eu tenho que lamentar
O meu bem ficou doente
E precisava se internar.

E tinha muita esperança
De logo ele melhorar
Não sabia que por muito tempo
Esta separação ia durar.

Ele me deu esta notícia
Em um ônibus circular
Eu chorei até em casa
Não pude me controlar.

Ele estava calmo e sereno
Bonzinho até demais
Beijando-me ia pedindo
Que eu voltasse com meus pais.

Mas meu amor era imenso
Eu fiquei desesperada
Pois não suportava viver
Do meu bem tão separada.

Mas o que podia fazer
Se foi Deus quem assim quiz
Separar o nosso amor
E nos tornar infeliz.

No dia 20 d julho
De 1968
Ele ficou em São Paulo
Para tratar-se um pouco.

Deixando-o no Hospital
Comecei a viajar
Para chegar em Joinville
E a minha filha encontrar.

E olhando o relógio
Já 11 horas da noite
Eu sentia sua falta
E chorava a minha sorte.

Deixando ele lá tão longe
Meu desejo de voltar
Para matar as saudades
Que vinham me atormentar.

De repente, em Joinville
Com minha filha em meus braços
As saudades do meu amor
Ó meu Deus, o que é que eu faço?

Ela só tinha 8 meses
Não podia entender
A ausência do papai
Como é triste o meu sofrer.

Os dias eram tão grandes
E as noites tão imensas
Meu amor lá tão distante
Que falta faz sua presença.

Tantos dias se passavam
Tantas noites de tortura
Só junto do meu diário
Que me diminuía a amargura.

Mas eu, cega de amor
Por este homem querido
Não sabia que com minha ausência
Ele estava me esquecendo.

Esta desilusão
Eu comecei a notar
Quando algumas pessoas
Intervinham em meu lugar.

Eu já vinha há algum tempo
Com esta gente sofrendo
Tentava lhes agradar
Mas compreendia o que estava havendo.

Depois de algum tempo
De eu, em Joinville ter voltado
Eles foram em São Paulo
Sem ter me avisado.

Fiquei aqui chorando
Pois era uma oportunidade
De ver o meu amor
E matar minhas saudades.

Lá chegando em São Paulo
Falaram muito de mim
Pensaram somente nele
Mas não pensavam no fim.

E eu, com fé em Deus
E com resignação
Guardava estes sentimentos
Dentro do meu coração.

Com todas aquelas fofocas
Meu amor não mais confiou
Na minha honestidade
No meu verdadeiro amor.

Eu fui até São Paulo
Bastante aborrecida
E pedi para meu bem
Se internar em Curitiba.

Ele veio a Curitiba
Para mais perto de mim
Mas, porém, meus ferimentos
Nunca chegavam ao fim.

Aos domingos, bem cedinho
Um ônibus eu tomava
Levando alguns docinhos
Em Curitiba eu chegava.

Correndo para o hospital
Onde estava o meu amor
Abraçava ele feliz
Ao sentir o seu calor.

Aquelas tristes fofocas
Me falou para não ligar
E pensar no grande amor
Que tínhamos que conservar.

Eu concordava com ele
Pois o amava demais
Aquela preocupação
Deveria ficar para trás.

Nós dois muito abraçados
Resolvemos que os demais
Que perturbassem nosso amor
Ficariam para trás.

Com beijos maravilhosos
Abraçados como ninguém
Trocamos mil juras de amor
Já estava tudo bem.

Resolvemos corresponder
Uma carta todos os dias
Eu escrevia a ele
Para mim ele escrevia.

Lindas cartas de amor
Vindas do coração
Recebíamos ansiosos
Com muita grande emoção.

Passaram-se mais dois meses
Nós, felizes e sofrendo
Com aquela separação
Mas de amor quase morrendo.

Quanta felicidade, quanto amor
Quantas saudades e trintezas
Quantas lágrimas e grande dor
Quanto orgulho e fraqueza.

Quantas coisas misturadas
Existia em nosso amor
Paixão, saudades, tristezas,
Orgulho, fraquezas e dor.

Com um amor assim
Muitas coisas acontecem
Mesmo sem união
Nunca mais se esquece.

Mas eis que a felicidade
Quando é bela demais
Ela dura muito pouco
Porque o pessoal a desfaz.

Muitas pessoas invejosas
Em nosso amor intervinham
Por ver a felicidade
Que em nossos corações existia.

Quando estávamos pensando
Em nunca mais nós brigarmos
Os desgostos vieram vindo
Para destruir nosso lar.

Mas alguns meses passaram
E, de repente, o Natal
Que eu o esperava tão contente
Não sabendo do grande mal.

O meu amor veio
Passar o Natal em casa
Por causa dos diz-que diz-que
Me deixou atormentada.

E todos aqueles dias
Que em Joinville ele ficou
Para mim nem um sorriso
E nem a filha ele ligou.

Eu sabia que era maldade
Que em sua memória ficava
Colocada por pessoas
Que muito me odiavam.

Eu não tinha culpa de nada
Mas só vivia a chorar
Pois o erro que cometi
Foi amar, somente amar.

Ele voltou para o hospital
Sem de mim se despedir
Fiquei só com minha filha
Não conseguia mais sorrir.

Mas sua consciência pesou
Por ter ferido meu coração
Escreveu-me logo em seguida
Pedindo o meu perdão.

Eu que o amo tanto
Não poderia deixar
De perdoar meu querido
Para a felicidade voltar.

E eu muito contente
Com a carta que recebi
Minha vida transformou
Voltei de novo a sorrir.

Em 1969
Dia vinte de janeiro
Ele voltou do hospital
Para os meus braços prisioneiros.

Eu emocionada
Por ter chegado finalmente
O dia em que meu amor
Ficaria comigo para sempre.

Foi assim que aconteceu
No dia dele chegar
Na casa todos almoçavam
Sem a ele esperar

Naquele instante
Eu tremia de emoção
Ao rever o meu amor
Querido do Coração.

Todos o cumprimentaram
E o  olharam simplesmente
Como se não estivesse
Já há 6 meses ausente.

Todos continuaram almoçando
Simplesmente à vontade
Eu não poderia mais falar
De tão grande felicidade.

Aí a felicidade
Que eu pensava ser eterna
Estava no seu finzinho
Eu ia perder a guerra.

Mas como eu não sabia
Que estava perto do fim
Me atirava em seus braços
Só queria ele pra mim.

Eu pensava emocionada
Agora ele vai ficar
Para sempre comigo
E nunca mais se separar.

Ele também sorria
Por estar realmente curado
Daquela doença triste
Que nos tinha separado.

Eu notava indiferença
Pensava como mudou
Não tem mais o mesmo sorriso
Em seus olhos não existe amor.

Nossa filha pequenina
Ele não mais ligava
Seus olhos tão estranhos
Que será que se passava.

Pegava o violão
Ficava sempre tocando
Umas musicas esquisitas
Que eu vinha estranhando.

Depois de 10 dias
De meu bem ter chegado
Senti a realidade
Estava tudo mudado.

Só este diário conhece
O meu grande sofrimento
O meu casamento infeliz
Com todos os meus tormentos.

Meus Deus, eu estou chorando
Porque me fizeste assim
Me deste este grande amor
Depois robaste de mim.

Passaram-se 15 dias
Que ele havia chegado
E era o último dia
Que eu passava ao seu lado.

No meu diário vai ficar
A triste separação
Que houve entre nós
Que triste desilusão.

Começava neste versinho
O final de um casamento
De um amor todo destruído
Por pessoas sem talento.

Muita gente inconformada
Tentavam me convencer
De que ele não prestava
Que eu devia esquecer.

Mas como eu ia esquecer
O homem que eu mais amava
Para ele não perder
Contra eles eu lutava.

Eu me sentia contente
Por ele ter voltado
Não ligava o que eles diziam
Achava até engraçado.

Eles não gostavam de mim
Como se gostassem diziam
Que ele não prestava
Que homens melhores existiam.

Mas por tudo que me falasse
A mim não convencia
Pois somente o meu marido
Nos meus braços eu queria.

Depois contei para ele
Tudo o que alguém me falou
Ele ficou zangado
E atenção dela chamou.

Como ela não podia
Mas convencer a mim
Virou-se para ele
Dando-lhe atenção sem fim.

Ela ficou muito zangada
Por eu ter contado tudo
Toda aquela palhaçada
E um monte de absurdo.

Não foi somente ela
Que tentou nos separar
Foram também outras pessoas
Que não quero aqui citar.

Sabendo que meu sofrimento
É viver sem meu marido
Lutaram até roubar
O meu tesouro querido.

Mentiras e mais mentiras
Tudo lhe convenceu
E a separação terrível
Num instante se sucedeu.

Para mim ele estava rude
Sempre comigo brigando
Gostava de me ver sofrer
E quase sempre chorando.

Ele também é culpado
Porque ele acreditou
O que lhe diziam os outros
E nunca no meu amor.

Até hoje não compreendi
Porque ele havia mudado
Pois chorara tanto por mim
E tanto tinha me amado.

Há quase dois anos de casados
Nunca dormimos separados
Só em caso de viagens
Mas nunca por ter brigado.

Mas eu que nada esperava
Dia 5 de fevereiro
De 1969
O dia do meu desespero.

À tarde ele passou com amigos
Que muito de mim falaram
Que me tiraram o meu amor
E muito me castigaram.

Mas eu que nada esperava
Me deitei cedo com a menina
E ele ficara na sala
Com alguém muito cretina.

Ele com a cabeça confusa
Achava que era verdade
Tudo que lhe diziam
Maldades e mais maldades.

Não sei o que conversavam
Naquela sala os dois
Só me lembro neste instante
De algumas horas depois.

No quarto eu adormeci
Abraçada a minha filhinha
Esperando o meu amor
Já à horas que não vinha.

Depois ele entrou no quarto
Vendo nós adormecidas
E com os olhos cheios de lágrimas
Junto a Edinha querida.

Mas de tão contrariado
Ele não se importou
E cautelosamente
Uma coberta ele pegou.

E saiu devagarinho
Para não nos acordar
Sabia que ia impedi-lo
Dali ele se afastar.

Ele subiu as escadas
Para o quarto do irmão
Deitou-se raivosamente
Sem sentir minha paixão.

Mas como eu estava dormindo
E não podia assistir
A cena já preparada
Para mais fundo me ferir.

Neste instante tive um sonho
Um anjo que me avisou
Que ele não estava no quarto
E que de mim se separou.

Com aquele sonho triste
Acordei muito assustada
Vi que ele não estava ao meu lado
Levantei muito assustada.

Eu corri até a porta
Olhei para todos os lados
Vi que todos na casa adormeciam
Que estava tudo apagado.

Corri até a sala
E todos os quartos também
Fui encontrá-lo lá em cima
Dormindo como ninguém.

Ao vê-lo assim dormindo
Tão despreocupadamente
Um soluço embalgou minha voz
E olhei-o comovente.

Eu queria por um fim
Naquela grande confusão
E para sempre ficar
No fundo do seu coração.

Eu juntei meus lábios aos seus
Com grande emoção
Sem saber que era a última vez
Que o beijava com paixão.

Não adiantava mais
Mesmo assim eu insistia
Lutando humilhada
Sofria mais não desistia.

Muitas palavras cruéis
A mim ele falou
Mas eram as maldades
Que dentro dele penetrou.

Chorando as amarguras
Que vinham me atormentar
Pedia a ele que viesse
No nosso quarto deitar.

Mas ele com seu orgulho
De nada queria saber
Não interessavam minhas lágrimas
Podia até eu morrer.

Respondeu que não descia
Pra deitar ao meu lado
Pois resolvera para sempre
Ficar de mim separado.

Para mi m foi dolorosa
A resposta que ele deu
Pois em meu peito ele ainda vive
Jamais este amor morreu.

Com muitas lágrimas e desesperos
Comigo ele concordou
Com nosso amor despedaçado
Para o quarto e/e voltou.

Ele já havia decidido
Queria a separação
Não se importava com o que vinha
Dentro do meu coração.

Há uma hora da manhã
Tudo isto acontecia
Ele não tomava conhecimento
De quanta dor eu sentia.

Naquele quarto que outrora
Era maravilhoso e colorido
Já se tornara sem vida
Por ver nosso amor ferido.

Ali ele adormeceu
Tudo em torno se girava
Pois no dia seguinte
Dele eu me separava.

Olhando a escuridão
Eu pensava e refletia
Que de manhã bem cedinho
O meu amor se perdia.

E já no romper da aurora
Eu com minha filha em meus braços
Cansada do amor sofrido
E do meu terrível fracasso.

Com meu corpo já sem forças
Eu não podia mais lutar
Estava perdendo a voz
Com vontade de gritar.

Só ódio se refletia
No fundo do seu olhar
Eu abracei a minha filha
E comecei a chorar.

Minha filhinha tão meiga
Sorria com alegria
Seu pequenino coração
Ignorava o que acontecia.

Chegando junto a mim
Muito sério me olhou
Para a casa de meus pais
Com a menina me mandou.

Tomei a menina em meus braços
Que estava em seu bercinho
Abraçada a ela chorando
Coloquei-a no carrinho.

Ele sorria das maldades
Que com outros praticara
Não pensava na honestidade
Que sempre eu lhe dedicara.

Passando pela porta
Dei um último olhar
Pensando nunca mais
Nesta casa voltar.

Fui andando pelas ruas
Com as pernas enfraquecidas
Empurrando o carrinho
Com nossa filha querida.

Papai veio ao meu encontro
E logo a mamãe também
Enquanto ele me acalmava
Ela olhava o neném.

Depois me ouviram tristes
E sentiram como eu
A triste separação
Deste amor que já viveu.

Eu fiquei lá esperando
Para ver se ele vinha
Buscar-me como prometeu
A mim e nossa filhinha.

As horas foram passando
Mas ele não aparecia
Estão fui a casa dele
Para ver como decidia.

O choque que levei
Foi terrível e doloroso
A partir daquele instante
Ele não era mais meu esposo.

Chegou até a porta
Uma pessoa invejosa
Que sabia sermos felizes
Por eu ser demais carinhosa.

Ele me disse cruéis palavras
A ele protegendo
O meu coração que o amava
Há muito estava sofrendo.

Ele sentado no balcão
Os seus ele protegia
Ajudava-os a me humilhar
Sem sentir quanto eu sofria.

Naquele instante eu pedi
Proteçao ao Bom Jesus
Pois não suportava mais
Carregar aquela cruz.

Então respondi a ele
Com a coragem que Deus me deu
Se tens proteçao dos teus
Eu também tenho dos meus.

Dali sai mais uma vez
Completamente esgotada
Por ver tantas maIdades
Nas pessoas acumuladas.

E vagava pelas ruas
Tomando o caminho da casa
Todos me olhavam espantados
Por ver o quanto eu chorava.

Depois achou-se com direitos
De tirar-me a menina
Para mais fundo ferir
 A mim e nossa filhinha,

Mas ele se enganou
Com a justiça e a lei
Pois a filha me pertence
Porque não fui eu que errei.

Iam passando os dias
Dois, três de desunião
E chorava desesperada
A triste separação.

Não demonstrava a ninguém
A dor que vinha sentindo
Na solidão do meu quarto
Eu chorava o triste destino.

Eu pedia piedade
A Deus Nosso Senhor
E para tirar do meu peito
Este sentimento de amor.

E fui ficando doente
Sem poder me alimentar
Pedia a um anjo do céu
Que viesse me buscar.

Eu que era tão alegre
Queria muito tempo viver
Hoje em meus 18 anos
Eu só penso em morrer.

Mas eis que minha filhinha
Que não sabia ainda andar
Deus seus primeiros passinhos
Para meu sorriso conquistar.

Com sua inocência
Para mim ela sorria
Devolvendo-me a vida
Com amor e alegria.

Olhando a minha filha
Comecei a refletir
Devo viver para ela
Pois ela precisa de mim.

Muitos conselhos ouvi
Para esquecer toda a dor
E dar para minha filha
O dobro do meu amor.

Me dediquei só a ela
Dias e noites sem parar
Para ver se conseguia
Minha dor acalentar.

Enquanto ela adormecia
O meu diário eu pegava
Beijava o seu rostinho
No seu futuro eu pensava.

Eu debruçava a cabeça
No meu diário chorando
E ele onde estaria agora
Talvez em nós duas pensando.

Que vontade eu sentia
De adivinhar seus pensamentos
Será que também nele ardia
A dor deste sofrimento.

Hoje eu estou sentindo
A triste realidade
Eu o perdi para sempre
Me sobrou só a saudade.

Me sentindo assim tão só
Quero viver honestamente
Para honrar a minha filha
E respeitar os meus parentes.

O meu pai me aconselhava
Que eu devia me alimentar
Por causa de um amor traído
Eu não devia mais chorar.

Mas como? Não mais chorar?
Se era tudo que eu podia
Fazer por aquele amor
Que me esqueceu um dia.

Meu Deus por que me traíste?
Por que me fizeste assim?
Será que tens algo melhor?
Reservado para mim?

Que saudades hoje eu sinto
Daquele grande amor
Daquelas noites felizes
Do seu rosto e seu calor.

Mas não adianta mais
Pois seu amor já morreu
Só o meu que ainda vive
Que culpa tenho eu?

Guardarei este diário
Com muito carinho e amor
Mesmo que só encontre nele
Amarguras saudades e dor.

Só duas coisas queridas
Somente me restaram
Deste amor traído
Minha filha e meu diário.

Se você leu meu diário
E possui um grande amor
Não deixe ele ir embora
Pra não sofrer minha dor.

No lugar do meu marido
Este diário ficou
Para preencher meu vazio
E os meus momentos de Amor.


ROSELI MARIA DOS PASSOS
( autora )
Rua Inácio Bastos, nº: 903
Joinville Estado de Santa Catarina
1 - 3 -1969

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